Alice Através do Espelho

A continuação de Alice é uma obra de grande complexidade estrutural e temática, que permite ao leitor uma "viagem" a um novo mundo.

Adriano Ferrera

9/3/20253 min read

A Sequência de "Alice no País das Maravilhas" foi publicada em 1872, e é uma obra de grande complexidade estrutural e temática, já que foi escrita num período de seis anos. Escrito por Lewis Carroll (Charles Lutwidge Dodgson, leia mais no artigo anterior) a pedido de seus leitores, o livro leva a protagonista a um mundo completamente novo e invertido, explorando de forma ainda mais profunda a lógica do nonsense e a transição da infância para a vida adulta. Temas já abordados no livro anterior.

Cronologicamente "Alice Através do Espelho" se passa seis meses após sua primeira aventura, Alice, agora com sete anos e meio, atravessa um espelho para um mundo reverso. A estrutura do livro é meticulosamente concebida como um jogo de xadrez, onde Alice se torna um peão branco. Ela deve seguir as regras do jogo para se tornar uma rainha, movendo-se de casa em casa em um tabuleiro gigante. Essa estrutura, com suas regras rígidas e "transições abruptas", sugere que uma força maior — o próprio autor — está no controle da partida, guiando Alice por desafios lógicos e comportamentais.

Nesse mundo, tudo funciona ao contrário: para chegar a um lugar, é preciso caminhar na direção oposta, e as pessoas se lembram do futuro. Essa inversão da lógica do mundo real reflete a confusão e a falta de sentido que as crianças sentem diante de um mundo adulto cheio de regras inexplicáveis.

Em "Através do Espelho", Lewis Carroll aprofunda-se em temas como solidão e o sentimento de não pertencimento. Alice é sempre uma "outsider" e uma "intrusa" no mundo do espelho. Mesmo acompanhada por outros personagens, ela nunca se encaixa e é frequentemente "abandonada" por eles. Essa experiência reflete a "solidão infantil" e a necessidade de pertencimento, uma sensação comum durante a transição para a adolescência.

O livro, assim como o seu antecessor, radicaliza a linguagem, fazendo com que uma mesma palavra ou sentença se desdobre em diferentes maneiras. Para os críticos, a obra explora temas universais como "a luta do racional contra o irracional" e a "busca por uma confusa identidade".

Lewis Carroll usa a linguagem fantástica para propor uma transgressão da realidade, criando um mundo onírico que serve como fio condutor para as aventuras de Alice. A obra permite uma leitura aprofundada, na qual o leitor pode analisar o comportamento dos personagens em relação às peças do jogo de xadrez e as complexas dinâmicas do mundo invertido.

A obra continua a ser um quebra-cabeça intelectual, com referências e enigmas que se conectam com a vida e os estudos de Charles Dodgson como matemático e lógico. "Através do Espelho" é uma prova de que a obra de Carroll não é apenas um conto infantil, mas um trabalho que convida à releitura e à descoberta de novas camadas de sentido.

Apesar de ser uma sequência, o livro pode ser lido de forma independente, sendo por vezes até recomendado como primeiro contato com a obra de Carroll. Sua linguagem intrigante e os enigmas que propõe garantem que ele, assim como o primeiro livro, permaneça relevante e fascinante para leitores de todas as idades.

Referências

Alice no País das Maravilhas - Edição comentada. Editora Zahar

Alice Através do Espelho – Edição comentada. Editora Zahar

Uma História Natural da Curiosidade. Alberto Manguel

À Mesa com o Chapeleiro Maluco. Alberto Manguel

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As aventuras CALEIDOSCÓPICAS de Alice no País das Maravilhas

XEQUE-MATE: as pluralidades de Alice através do espelho

Literatura Fundamental 80 - Alice - Lewis Carroll - Sandra Vasconcelos